terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Desafio no Circuito W: Mirador Britânico


Placa do Mirador Britânico - Circuito W
O grande desafio do dia. Chegar até aí!
Nada melhor que uma boa noite de sono para recuperar as energias e trazer mais disposição para uma caminhada. Para falar a verdade, bem que ficaríamos mais tempo na confortável cabana do Refúgio Los Cuernos, mas tínhamos um importante desafio: o trecho mais longo do Circuito W, com a expectativa de chegada ao Mirador Britânico, vencendo mais de 700m de desnível ao todo.

Seguimos nossa rotina de organizar as mochilas, tomar café e apanhar os lanches. Saímos às 08:40 e rapidamente alcançamos as margens do Lago Nordenskjöld, que havia sido nossa bela companhia no dia anterior.


Lago Nordenskjold Circuito W
Praia de cascalho às margens do Lago Nordenskjöld. Observe a transparência das águas
Até o Acampamento Italiano, a maior parte do percurso é feita atravessando pequenos bosques com arbustos e árvores de baixa altura. Sempre subindo ao longo dos 5,5 Km que o separam do Refúgio Los Cuernos. Após 2 horas e 40 minutos, chegamos ao Acampamento Italiano.

Abastecimento de água
Abastecimento de água não é problema
Pan de Índio (Cyttaria darwinii)
Pouco antes do Acampamento italiano, encontramos essa fruta curiosa, parecendo umas bolinhas de golfe, chamada de Pan de Indio (Cyttaria darwinii)
O Acampamento Italiano abriga um posto de guarda-parque e as barracas são montadas em meio a um belo bosque, próximo ao Rio Francês. Banheiros coletivos estão disponíveis, mas são péssimos.

Neste ponto, antes de subir para os Miradores Francês e Britânico, temos a oportunidade de deixar a maior parte da carga e subir leve. Não há nenhuma estrutura para guardar as mochilas e você precisa confiar (e torcer) para que nada seja levado enquanto estiver fora. De todo modo, melhor não deixar nada de valor e protegê-las com as capas de chuva. Subimos basicamente com os equipamentos fotográficos, algum lanche, bastões de caminhada, anorak e água.

Mochilas no Acampamento Italiano
As mochilas ficam ao tempo, encostadas na cabana
Barracas no Acampamento Italiano - Circuito W
Visão do Acampamento Italiano
Fizemos um lanche e tomamos a trilha, com o Rio Francês à esquerda. O caminho bem fácil é logo substituído por uma subida onde predominam rochas soltas, de todos os tamanhos. Todo o cuidado é necessário para evitar acidentes e os bastões de caminhada ajudam bastante. Em compensação, o Glaciar Francês, que desce do Cerro Paine Grande (3000m) é uma visão belíssima e nos anima a chegar ao Mirador.

A caminho do Mirante Francês Circuito W
Haviam muitas pedras no meio do caminho e no caminho havia um belo glaciar

Pássaro Circuito W

Chaura (Gaultheria mucronata)
Chaura (Gaultheria mucronata)
Cuernos Norte Circuito W
Uma bela visão dos Cuernos Norte, fotografada por Rosana
Mangos no Mirador Francês
Marcando presença no Mirador Francês

Chegando ao Mirador Francês, Rosana e Lillian ficaram com as mochilas leves, enquanto eu e o Helder seguimos para o Mirador Britânico. A trilha até lá não é difícil e atravessa belos bosques de lengas e passa pelo Acampamento Britânico – na verdade, apenas uma clareira, sem nenhuma infra-estrutura. As marcações de cor laranja, em árvores ou em estacas tornam a orientação fácil, mas não indicam o quanto falta para chegar ao Mirador – basicamente, uma grande pedra arrendondada no topo de uma colina.

Ao todo, caminhamos por cerca de 1,5 h, onde tivemos belas visões das várias formações rochosas, embora o tempo estivesse nublado. Fico imaginando como seria com céu azul! Fizemos várias fotos e logo voltamos para o Mirador Francês, chegando às 16:00.

Rio Francês - Circuito W
Rio Francês
Acampamento Britânico Circuito W
Acampamento (?) Britânico
Formações rochosas no caminho para o Mirador Britânico
Belas formações no caminho
Comemorando a chegada ao Mirador Britânico
Helder e Jodrian. Missão dada, missão cumprida!
Parte ocidental do circo de montanhas do Vale Francês
Parte ocidental do circo de montanhas do Vale Francês
Gastamos 01 hora na descida e (felizmente) todas as nossas coisas estavam exatamente como havíamos deixado. Redistribuímos os materiais pelas mochilas, fizemos um alongamento muscular, mais um lanchinho rápido e toca para encarar o trecho de mais 7,5 Km até o Lodge Paine Grande. Até ali, já havíamos percorrido 16,5 Km no dia.

Cruzamos a ponte sobre o Rio Francês e seguimos em um trecho sem muitas complicações, com subidas e descidas não muito íngremes. Entretanto, para testar um pouco mais nossa persistência, uma chuva nos acompanhou por um bom tempo, deixando o ritmo mais lento.

Uma parte deste caminho é uma testemunha dramática do incêndio ocorrido em 2012 (ver detalhes abaixo). É muito triste ver como a natureza pode ser rapidamente destruída, mas também é um alento ver como a vegetação vai se recuperando.

Árvores atingidas pelo incêndio em Torres del Paine
Uma grande área com árvores queimadas
Flores na área afetada pelo incêndio
e a flora renascendo em meio aos galhos carbonizados
Por volta das 20:00, totalizando cerca de 10 horas e meia de caminhada, uma visão magnífica do Lago Pehoé e mais à frente o Lodge Paine Grande. Chegamos bem cansados, mas satisfeitos com a conclusão de mais uma “perna” do W (veja mapa). Comemoramos com vinho branco!! Viva a Patagônia \o/

Lago Pehoé e Lodge Paine Grande
Lago Pehoé e Lodge Paine Grande (seta branca)

O incêndio de 2012


Em 27 de dezembro de 2011, um turista israelense de 23 anos queimou papel higiênico próximo ao Lago Grey e iniciou um incêndio que, alimentado pelo clima seco e fortes ventos da Patagônia, consumiu mais de 17 mil hectares [link], mobilizando um grande número de brigadistas, militares e voluntários. Na ocasião, o Parque foi interditado e os turistas e funcionários foram retirados, causando um prejuízo enorme à natureza e à economia local.

Infelizmente, não foi a primeira vez. Em 1985, um turista japonês causou um incêndio por causa de cigarros e em 2005, foi a vez de um turista Tcheco fazer besteira.

Não é à toa que há uma preocupação constante com novos eventos. Alertas fazem parte dos mapas e folhetos e é importantíssimo levar isso a sério:

Panfleto Prevenção de incêndios Patagônia

  

Outros posts da série


- Laguna Nimez–Santuário de aves em El Calafate
- Perito Moreno–Maravilha da Natureza na Patagônia Argentina
- Glaciares no Lago Argentino
- Caminhando no Gelo
- O início do Circuito W
- Torres del Paine
- Los Cuernos

5 comentários:

  1. Fala Jodrian,
    Você conseguiu um dia muito bom. Quando eu subi já estava nevando no Francês e só piorava a medida que eu me aproximava do Britânico...chegando lá não vi muita coisa !
    O mapa do parque fala em 0,5h do Francês até o Britânico, mas também demorei 1,5h.
    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caramba, subir esse trecho irregular com neve não deve ter sido fácil. E as estimativas de tempo são sempre otimistas ..hahaha.
      Grande abraço !

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    2. Eu não fiz o W (está nos planos ainda), mas fui no inverno e fiquei duas noites na Hosteria Lago Grey, peguei um mapa com as marcações das trilhas em volta. Os tempos são muito distorcidos! Eu acho que caminho rápido e, assim como vocês, fiz umas trilhas pequenas em 3x o tempo marcado! rs Ótimo post Jodrian, só aumentou minha vontade de fazer o W.

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    3. Olá, Carolina !
      É um percurso que vale muito a pena. E no verão, como os dias são longos, o tempo de caminhada não é tão crítico. É muito melhor ir em um ritmo tranqüilo, curtindo as belas paisagens e fazendo paradas para fotografar - não faltam motivos.
      Muito obrigado pelos comentários :)
      Grande abraço

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