sexta-feira, 29 de abril de 2011

Caminho Português à Santiago de Compostela - Parte 02

Rastreamento com o SPOT. No
 detalhe o último trecho do
Caminho
Na segunda parte deste relato, descrevemos os trechos percorridos em terras espanholas. Desde Vila do Conde, todo o percurso foi acompanhado com o rastreador pessoal SPOT.

4º. Dia –Valença – Porriño

Decidimos dormir um pouco mais para uma melhor recuperação física. Tomamos um bom café da manhã na Pousada, passeamos um pouco pela Fortaleza e só então retomamos o caminho, por volta das 10 horas.

Cruzamos a ponte internacional que liga Portugal e Espanha e entramos na Cidade de Tui, a primeira em terras galegas (adiantamos o relógio em mais 01 hora). A partir daí, até quase a chegada em Santiago, tivemos que usar os anoraks e as proteções de chuva das mochilas, afinal, como disse um peregrino “A Galícia é água”.



Início da travessia da Ponte
Internacional
Passamos também a ver as comunicações com a língua Galega, que se parece com o português e usa a letra "x" de forma, que para nós parece curioso, como é o caso de "Xosé" (José), "Reciclaxe" (Reciclagem), etc.
Atravessamos o longo trecho do Polígono Industrial de Porriño e a todo instante carros e caminhões passavam em alta velocidade (não é uma parte agradável).

Chegamos à cidade e resolvemos parar aqui o percurso. Neste ponto, vimos uma indicação que faltava “apenas” 100 km para Santiago – estávamos na metade do caminho.

O plano original era seguir até Redondela, mas não achamos prudente, pelo adiantado da hora e pela perspectiva de mais chuvas. Procuramos pelo Hotel Parque e fomos auxiliados por um casal já idoso que fez questão de nos acompanhar até lá. Compramos alguns lanches para o dia seguinte, jantamos no próprio hotel. Saldo do dia: 16 km de caminhada

5º. Dia – Porriño – Pontevedra


Um hórreo: pequenas e tradicionais
construções de pedra para
se armazenar o produto das
colheitas. Freqüentes na
Galícia e na região do Minho
Para compensar a redução na jornada do dia anterior, saímos às 07:00 (tudo escuro) e seguimos pela auto-estrada (carretera). Quando clareou mais, paramos para comer uns lanches como café da manhã e continuamos para Redondela.

Após novas subidas e descidas, passamos pela pequena cidade de Mos, onde tomamos um ótimo café com leite e seguimos viagem com as mesmas alternâncias de paisagem. Muitos bosques de pinhos e eucaliptos, pequenas cidades e fazendas. Por volta do meio-dia, chegamos à Redondela e paramos para almoçar em um pequeno restaurante.

Mural de Conchas
Na região do Alto da Lomba, chegamos a uma curva que permitia, do alto, uma magnífica vista para o Rio Vigo, onde próximo havia uma espécie de “mural” com conchas penduradas e outros objetos, como meias e bonés que os caminhantes ali depositavam. Uma das mensagens que havia - muito adequada àquela altura - era: “o cansaço é temporário, mas a glória é para sempre”.

Em seguida, alcançamos a cidade de Arcade, famosa por suas ostras, mas ainda faltavam mais umas 5 horas. A melhor opção talvez seria ter ficado ali, mas decidimos continuar e  haja seta amarela para seguir.

Pontesampayo
No percurso atravessamos uma bela ponte, bem estreita, onde mal dava para passar um carro - a Pontesampayo, lugar histórico, onde ocorreu uma feroz batalha com a vitória dos locais sobre as tropas do General Ney durante a Guerra de Independência contra os exércitos franceses, em junho de 1809.

Finalmente, após 34 km, chegamos à Pontevedra. Foi, sem dúvida, um dos dias mais exigentes. Ficamos hospedados no Hotel Dabarca, estilo flat e jantamos assistindo a partida Final da Copa del Rey, entre o Barcelona e o Real Madrid, que acabou ganhando com um gol de cabeça de Cristiano Ronaldo.

6º. Dia – Pontevedra – Caldas de Reis

Acordamos mais tarde, arrumamos as mochilas, tomamos um pequeno desayuno e partimos de Pontevedra pelo centro da cidade. Graças às massagens mútuas que fizemos na noite anterior e a comprimidos de relaxante muscular, estávamos em forma para prosseguir.

Igreja da Virxe
Peregrina, em
Pontevedra
Paramos na famosa Igreja da Virxe Peregrina, carimbamos as credenciais e seguimos adelante, na certeza de uma jornada mais curta. Cruzamos o Rio Lérez pela ponte de O Burgo, de origem romana e símbolo da cidade.

Pouco tempo depois, conhecemos duas portuguesas, Olga e Cristina, que faziam o caminho desde Tui e com as quais nos encontraríamos novamente em vários momentos daí para frente.  

Muita chuva
O tempo que vinha com sol, começou a ficar nublado e quando alcançamos a N-550, desabou uma verdadeira tormenta, com raios e trovões fortes. Procuramos abrigo em uma casa até diminuir o volume de água, mas não teve jeito: roupas e botas encharcadas.

Após 23 km, em um dia que não foi muito cansativo, chegamos a Caldas de Reis, famosa por suas águas termais. Ficamos no Hotel Balneário D’Ávila, que possui banhos termais como serviço opcional para os hóspedes. Com tanta água no couro, não quisemos conversa com esta opção. Na verdade, ansiávamos por secar roupas e mochilas, mas o tempo úmido dificultou bastante.

Saímos para encontrar algo para comer, mas as cozinhas estavam fechadas e só abririam às 20:30. Encontramos um bar e aí fomos atacando de tapas (pequenas porções) de polvo, batatas, lingüiça e cervejas belga e galega.

7º. Dia – Caldas de Reis – Padrón

As roupas e as botas praticamente não secaram no dia anterior. Daí, já que continuava uma chuva fina e íamos nos molhar de novo, optamos por seguir de sandálias.

Defesa Civil - Apoio aos
peregrinos
O trecho não foi difícil. Chegamos antes do que imaginávamos. Apenas a chuva que ia e vinha (mais vinha do que ia) atrapalhou um pouco. Um ponto interessante foi topar com uma tenda da defesa civil de Valga, que recepcionava os caminhantes com cuidados para pequenas moléstias (calos, picadas de inseto, etc.), além de chancelar as credenciais e disponibilizar bancos para um providencial descanso – ótima iniciativa, que demonstra o interesse do Poder Público local no Caminho de Santiago.

Paramos para mais um lanche com bocadillos e, seguindo um ritmo tranqüilo, com 5h de caminhada, cobrimos os 17 km até Padrón. Chegamos com informações que não haveria vagas em hotéis por causa das festas da Semana Santa. No entanto, logo na primeira tentativa, encontramos hospedagem no Hotel Riviera. Após um bom banho quente, saímos para conhecer a cidade, de forte tradição Jacobéia.

O Padrón
O nome Padrón deriva da tradição católica onde o corpo martirizado do Apóstolo Santiago foi trazido por uma barca por seus discípulos Atanasio e Teodoro e atracou a uma pedra (ou padron) nesta localidade. A pedra em si, fica exposta atrás do altar na Igreja de Santiago.

Procissão
Na Igreja estava ocorrendo a celebração eucarística da Sexta-feira Santa, que incluía o ritual de retirada da imagem do Cristo da cruz. A partir daí, a imagem seguiu em procissão pelas ruas da cidade, acompanhada por duas confrarias de encapuzados – uma com vestes roxas e outra de dourado. A marcha seguia ao som de tambores e o ritmo era ditado por batidas dos cajados no chão. Interessante de se ver.

Depois, meio sem querer, escolhemos um dos melhores, senão o melhor restaurante de Pádron, que fica no mesmo prédio do hotel. O Restaurante do Chef Riviera. Em fotos, vimos que já receberam o Rei Juan Carlos e a Rainha Sofia e o Chef está no Livro dos Recordes pela maior tortilla de batatas em 1990, usando 19800 ovos e 3705 kg de batatas. A fama é justificada: comemos dois excelentes pratos de pescado, acompanhados de um bom vinho de alvariño.


8º. Dia – Padrón – Santiago de Compostela

Último dia do percurso. Já sentia um pouco de nostalgia por estar chegando ao fim. Agora, apenas 22 km nos separavam do destino final. Tomamos um rápido café no hotel e saímos por volta das 09:30, desta vez já com as botas secas. Seguimos novamente pela N-550 até Faramello, onde deixamos a estrada, a pouca distância do Albergue de Téo.

Foi um trecho simples, sem grandes variações de altitude e novamente cortando pequenos povoados. A certa altura, mais ou menos quando o marco indicava que faltavam 10 km, o sol começou a dar o ar da graça e não choveu mais até a chegada.

No último café em que paramos, um caminhante fazia 60 anos e Cristina resolveu comemorar com um pequeno bolo e uma vela. Uma boa descontração na reta final.

Já em Santiago de Compostela, temos de repente, o contraste das trilhas relativamente desertas com o burburinho da cidade. Muitos turistas e peregrinos compartilhando os cafés, restaurantes e lojas da capital da Comunidade Autônoma da Galícia. Depois que saímos da Catedral, passamos na Oficina de Acogida de Peregrinos ou Escritório de Acolhida de Peregrinos, onde apresentamos as credenciais devidamente carimbadas ao longo do caminho e recebemos a Compostelana. Em março de 2011, haviam chegado 2.961 peregrinos, dos quais 82,24% a pé, 17,63% de bicicleta e 0,14% a cavalo.

Ainda tivemos fôlego para caminhar até o Hotel Área Central, onde ficamos até a segunda-feira, aproveitando para conhecer a cidade e participar da missa de Páscoa.

Ficou a vontade de fazer outra(s) rota(s) e termino o relato com trecho de um poema de Antônio Machado:


Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

12 comentários:

  1. parabens para todos que fiseran o caminho.eu estou me preparando tambem para.o caminho en 2013 julho bisouro .vitoria do espirito santo = brasil . es.caravello@hotmail.com

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  2. Adorei suas postagens. Pretendo ano que vem fazer o Caminho. Iremos em 3, ou 4, iniciando a peregrinação por Portugal.

    A dica da estação bateu com o que estamos traçando.

    Confesso que, apesar de estar faltando mais de hum ano, já tá rolando ansiedade. :)

    Um grande abraço e Feliz 2014.

    Maria Aparecida Calixto

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    Respostas
    1. Muito obrigado pela visita e pelos comentários, Maria
      É um caminho muito bacana. Se precisar de mais informações, é só falar :)
      Excelente 2014 prá você e grande abraço !

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  3. Olá! Gostei muito do blog e do relato do Caminho de Santiago! Vou tb esta Páscoa com o meu namorado fazer o caminho e gostaria de saber se fizeram algumas reservas de hotel com antecedencia ou se foi fácil encontrar sitios (sem ser os albergues). Obrigada, Inês

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  4. Gostei muito de seu relato do Caminho de Santiago. Eu e meu marido pretendemos fazer em setembro/2014. Estamos achando muito puxado os dois trechos que tem 30 e 38 Kms, sabe dizer se tem a possibilidade de fracionar esses trechos? Temos tempo disponível. Grata.
    Solange

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    Respostas
    1. Sim, Solange
      Há cidades que podem ser utilizadas para fracionar os percursos. Por exemplo, entre Porrino e Pontevedra, há a cidade de Arcade. Veja uma opção em 13 etapas em nossa página: http://www.aventuramango.com.br/p/caminho-portugues-santiago-de.html
      Muito obrigado pela visita e pelos comentários
      Abraço,
      Jodrian

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  5. amei o relato de voces! farei ano que vem e ja estou com tudo preparado, inclusive, aceitei a dica de Caldas de Reis d voces no CHEFRIVIERA, q era o unico lugar que ainda nao tinha achado hotel, valeu!!!
    apenas uma duvida, os carimbos ao longo do caminho sao dados nas igrejas? obrigada! bjosss

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    1. Muito obrigado pela visita e pelos comentários, Debora :)
      Sim, várias igrejas também carimbam os passaportes. Não sei se é uma regra, mas sempre que víamos uma, procurávamos carimbar.
      Grande abraço e bom caminho !
      Jodrian

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  6. Boa tarde: este é o primeiro blog que visito para o caminho pelo lado português;penso em fazer com mais dois amigos, pelo menos. Dicas sobre roupas, calçados, mochila, peso, poderia me informar, por favor? Para fazer o percurso em 9 dias, setembro de 2017. Obrigada

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    Respostas
    1. Bom dia,
      A dica básica para equipamentos é: quanto mais leve e confortável, melhor. Nós fizemos o caminho com um peso total de mochilas entre 6 e 7 quilos. Procure economizar (desapegar) na hora de planejar e não leve muita coisa. Eu caminhei com botas que foram previamente amaciadas e meias para caminhada. Lembre-se que seus pés serão seu recurso mais importante.
      Caso tenha alguma dúvida mais específica, pode entrar em contato

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