Chegada à praça da Catedral de Santiago de Compostela |
Eram 17:30 do dia 23/04/2011 - Sábado de Aleluia, em uma tarde de sol ameno, quando eu e Rosana alcançamos o final do percurso: havíamos chegado à praça da Catedral de Santiago de Compostela, seguindo uma rota portuguesa.
Depois de 8 dias de caminhada, 200 km em terras portuguesas e espanholas, suor, alguns calos e dores musculares, sol e chuva, estávamos compartilhando com inúmeros caminhantes e ciclistas, sem dúvida, os mesmos sentimentos de alívio, gratidão, alegria e orgulho.
Ainda com as mochilas, entramos na Catedral, que neste ano de 2011 completa 800 anos de consagração
Ainda com as mochilas, entramos na Catedral, que neste ano de 2011 completa 800 anos de consagração
Rosana teve a idéia de percorrer o Caminho de Santiago em 2010 e desde o início do ano começamos a treinar e pesquisar, sempre que podíamos. O período foi escolhido para coincidir com a Semana Santa e o percurso deveria ser possível em 8 ou 9 dias, descontando os dias de viagem para o Brasil. Assim, uma rota saindo de Portugal foi a mais apropriada. Nesta época, é primavera na Europa, as temperaturas estavam amenas, os campos com muitas flores, mas também com alguma chuva e até tempestades passageiras.
A Vieira - Símbolo do Caminho |
Conforme descreve o Centro de Estudos Galegos, “O Caminho de Santiago tem sete rotas históricas: o Caminho Francês, o Caminho do Norte, a Vía de la Plata, a Rota Marítimo fluvial, o Caminho Inglês, o Caminho Primitivo e o Caminho Português. Para alem destas rotas existe ainda o Caminho de Finisterra que faz a ligação entre a cidade de Santiago e Finisterra.” O Caminho Português possui também algumas variações e vamos descrever a que fizemos em duas postagens. Aliás, são tantas as informações e experiências que absorvemos e vivenciamos nestes dias, que resolvemos criar uma página fixa no blog dedicada a detalhar alguns aspectos do percurso.
Caminhar rumo a Santiago de Compostela é, sem dúvida, muito mais que fazer uma trilha exigente. Chama a atenção, por exemplo, o clima positivo que contagia quem caminha. É muito freqüente ouvir saudações de outros que caminham e de quem observa os caminhantes: “Bom caminho”, Buon Viaje” ou “Buon Camino” - Positive Vibrations, diria Bob Marley.
Também acabamos por tomar contato mais direto com diversas cidades de Portugal e da Espanha. Pudemos ver o modo de vida das pessoas, sentir os aromas, provar comidas e conhecer suas histórias e tradições, a cultura e a religiosidade, de uma forma mais intensa do que uma viagem de turismo tradicional permitiria.
O percurso
1º. Dia – Vilarinho (Vila do Conde) – Barcelos
Após o susto com o atraso na chegada da bagagem com as mochilas por parte da TAP à cidade do Porto (Chegamos pela manhã, mas só as recebemos às 01:30 do dia seguinte, quando começaríamos a caminhada), resolvemos tomar um metrô e sair de Vila do Conde e não do Porto. Com isso evitamos o trecho com trânsito intenso e antecipamos nossa chegada à Santiago para o sábado, o que também nos deu mais flexibilidade para algum imprevisto.
Mochila nas costas e partimos da Igreja de Nossa Senhora da Lapa. No início, a sinalização do caminho ainda não estava tão clara e fomos seguindo consultando os mapas que levamos e contando com a gentileza das pessoas que nos informavam sobre o percurso. Assim, chegamos à Arcos, onde almoçamos.
A partir daí, os mapas só foram necessários para nos situar em relação ao percurso. O caminho é facilmente identificado pelas famosas setas amarelas. Chega a ser divertido procurá-las em postes, muros, árvores ou mesmo no asfalto.
Na seqüencia, alcançamos a Freguesia de São Pedro de Rates, ou simplesmente Rates. Aqui, seguimos o chamado Caminho Central, seguindo para Barcelos, ao invés do Caminho da Costa ou Litoral. Em Rates foi curioso encontrar um busto de Tomé de Souza (1º. Governador- Geral do Brasil), natural daquela cidade.
Rio Cávado, em Barcelos |
Barcelos é caracterizada pela figura do Galo, cuja origem é uma lenda na qual um peregrino teria sido salvo de uma condenação injusta pela intervenção milagrosa de um galo morto, que se pôs a cantar.
2º. Dia – Barcelos – Ponte de Lima
Procuramos sair mais cedo, já antevendo que o dia seria pesado. Tomamos café próximo à Sede dos Bombeiros Voluntários de Barcelinhos (que também hospedam os peregrinos) e, pela primeira vez, começamos a ver outros caminhantes.
Passamos por São Pedro de Fins de Tamel, onde há um Albergue inaugurado há cerca de 01 ano e paramos para almoçar frango com batatas em uma taberna (Na maior parte do caminho Português, há muitos cafés que facilitam bastante o percurso – uma pausa para um lanche, usar o banheiro e, claro para descansar um pouco).
Ponte das Tábuas, sobre o Rio Neiva |
O dia foi cansativo (30 km de caminhada). Paramos já na entrada da Cidade de Ponte de Lima, em um dos bancos localizados estrategicamente de frente para a belíssima paisagem do Rio Lima e da ponte de origem romana, que dá nome à cidade.
Por sorte, o hotel em que ficaríamos estava localizado já bem próximo. Logo após nos instalarmos, fui a um supermercado para comprar as provisões para o dia seguinte, uma vez que não teríamos muitas facilidades para encontrar locais de refeição.
3º. Dia – Ponte de Lima – Valença
Último trecho em Portugal . Saímos cedo, por volta das 07:00 e pelo caminho fomos comendo o café da manhã, ou o “pequeno almoço” como chamam os portugueses. Para dar uma trégua aos calos, fiz a caminhada de sandálias.
Neste trecho, houve uma passagem curiosa: por baixo de um grande viaduto, havia um cachorro que nos observava de longe, recuou umas duas vezes à medida que avançávamos, mas começou a latir ferozmente ao chegarmos próximo a uma casa. Tive que suborná-lo com pedaços de pão para passar – uma espécie de pedágio.
O desafio maior do trecho foram as várias subidas de descidas e terrenos irregulares em área de florestas. Um dos marcos pelos quais passamos foi a chamada Cruz dos Franceses, na travessia da Serra Labruja, que assinala o local onde a população emboscou os retardatários do exército de Napoleão, na invasão francesa de 1809.
Cruz dos Franceses |
Um refresco em uma das fontes disponíveis |
Acompanhamos por algum tempo um senhor e duas crianças que estavam treinando para a rota francesa, percorrendo 20 km por dia, até o Albergue situado na cidade de Rubiães. Chegando lá, um simpático voluntário nos informou que ainda faltavam 18 km. Respiramos fundo, seguimos adiante, já em um ritmo mais lento e chegamos a Valença, já ao escurecer, cumprindo um total de 38 km.
Vista do Rio Minho e da Ponte Internacional, a partir da Fortaleza de Valença |
Ainda encontramos energia para sair e jantar um excelente bacalhau com vinho em um restaurante, dentro da própria fortaleza, que abriga inúmeros outros prédios.
Tenho muita vontade de fazer esse Caminho e lendo a sua aventura minha vontade só aumentou!
ResponderExcluirEstou pesquisando a respeito. Quem sabe um dia também farei!
Beijos,
Carolina Lima
Valeu Carol !!! Vale muito a pena fazer o Caminho. Independente da motivação ou do ritmo que escolher, é sempre uma ótima experiência. Fique à vontade para trocar idéias. :-)
ExcluirFantastica a viagem. Parabens pelo post. Era exatamente o que estava procurando. Apenas uma duvida: como vcs voltaram para Cidade do Porto?
ResponderExcluirObrigado, Marcelo.
ExcluirNós voltamos de trem.
Abraço.
Jodrian
Boa Noite Jodrian !
ResponderExcluirQuanto tempo dura essa viagem ?
Boa noite, Marlene
ExcluirDura o tempo que você quiser. Depende de seu ritmo e de onde você quer começar a jornada. No nosso caso, foram 8 dias, mas há muitas variações, inclusive se quiseres seguir outras rotas que não a portuguesa.