quinta-feira, 28 de abril de 2011

Caminho Português à Santiago de Compostela - Parte 01

Chegada à praça da Catedral
de Santiago de Compostela
Eram 17:30 do dia 23/04/2011 - Sábado de Aleluia, em uma tarde de sol ameno, quando eu e Rosana alcançamos o final do percurso: havíamos chegado à praça da Catedral de Santiago de Compostela, seguindo uma rota portuguesa.

Depois de 8 dias de caminhada, 200 km em terras portuguesas e espanholas, suor, alguns calos e dores musculares, sol e chuva, estávamos compartilhando com inúmeros caminhantes e ciclistas, sem dúvida, os mesmos sentimentos de alívio, gratidão, alegria e orgulho.

Ainda com as mochilas, entramos na Catedral, que neste ano de 2011 completa 800 anos de consagração

Rosana teve a idéia de percorrer o Caminho de Santiago em 2010 e desde o início do ano começamos a treinar e pesquisar, sempre que podíamos. O período foi escolhido para coincidir com a Semana Santa e o percurso deveria ser possível em 8 ou 9 dias, descontando os dias de viagem para o Brasil. Assim, uma rota saindo de Portugal foi a mais apropriada. Nesta época, é primavera na Europa, as temperaturas estavam amenas, os campos com muitas flores, mas também com alguma chuva e até tempestades passageiras.




A Vieira - Símbolo do Caminho
Conforme descreve o Centro de Estudos Galegos, “O Caminho de Santiago tem sete rotas históricas: o Caminho Francês, o Caminho do Norte, a Vía de la Plata, a Rota Marítimo fluvial, o Caminho Inglês, o Caminho Primitivo e o Caminho Português. Para alem destas rotas existe ainda o Caminho de Finisterra que faz a ligação entre a cidade de Santiago e Finisterra.” O Caminho Português possui também algumas variações e vamos descrever a que fizemos em duas postagens. Aliás, são tantas as informações e experiências que absorvemos e vivenciamos nestes dias, que resolvemos criar uma página fixa no blog dedicada a detalhar alguns aspectos do percurso.

Caminhar rumo a Santiago de Compostela é, sem dúvida, muito mais que fazer uma trilha exigente. Chama a atenção, por exemplo, o clima positivo que contagia quem caminha. É muito freqüente ouvir saudações de outros que caminham e de quem observa os caminhantes: “Bom caminho”, Buon Viaje” ou “Buon Camino” - Positive Vibrations, diria Bob Marley.

Também acabamos por tomar contato mais direto com diversas cidades de Portugal e da Espanha. Pudemos ver o modo de vida das pessoas, sentir os aromas, provar comidas e conhecer suas histórias e tradições, a cultura e a religiosidade, de uma forma mais intensa do que uma viagem de turismo tradicional permitiria.


O percurso

1º. Dia – Vilarinho (Vila do Conde) – Barcelos

Após o susto com o atraso na chegada da bagagem com as mochilas por parte da TAP à cidade do Porto (Chegamos pela manhã, mas só as recebemos às 01:30 do dia seguinte, quando começaríamos a caminhada), resolvemos tomar um metrô e sair de Vila do Conde e não do Porto. Com isso evitamos o trecho com trânsito intenso e antecipamos nossa chegada à Santiago para o sábado, o que também nos deu mais flexibilidade para algum imprevisto.

Mochila nas costas e partimos da Igreja de Nossa Senhora da Lapa. No início, a sinalização do caminho ainda não estava tão clara e fomos seguindo consultando os mapas que levamos e contando com a gentileza das pessoas que nos informavam sobre o percurso. Assim, chegamos à Arcos, onde almoçamos.

A partir daí, os mapas só foram necessários para nos situar em relação ao percurso. O caminho é facilmente identificado pelas famosas setas amarelas. Chega a ser divertido procurá-las em postes, muros, árvores ou mesmo no asfalto.

Na seqüencia, alcançamos a Freguesia de São Pedro de Rates, ou simplesmente Rates. Aqui, seguimos o chamado Caminho Central, seguindo para Barcelos, ao invés do Caminho da Costa ou Litoral. Em Rates foi curioso encontrar um busto de Tomé de Souza (1º. Governador- Geral do Brasil), natural daquela cidade.

Rio Cávado, em Barcelos
Chegamos à Barcelos no final da tarde, após 26 km de caminhada e ficamos hospedados no Hotel Bagoeira para um merecido descanso.

Barcelos é caracterizada pela figura do Galo, cuja origem é uma lenda na qual um peregrino teria sido salvo de uma condenação injusta pela intervenção milagrosa de um galo morto, que se pôs a cantar.


2º. Dia – Barcelos – Ponte de Lima

Procuramos sair mais cedo, já antevendo que o dia seria pesado. Tomamos café próximo à Sede dos Bombeiros Voluntários de Barcelinhos (que também hospedam os peregrinos) e, pela primeira vez, começamos a ver outros caminhantes.


Ponte das Tábuas, sobre
o Rio Neiva
 Passamos por São Pedro de Fins de Tamel, onde há um Albergue inaugurado há cerca de 01 ano e paramos para almoçar frango com batatas em uma taberna (Na maior parte do caminho Português, há muitos cafés que facilitam bastante o percurso – uma pausa para um lanche, usar o banheiro e, claro para descansar um pouco).

O dia foi cansativo (30 km de caminhada). Paramos já na entrada da Cidade de Ponte de Lima, em um dos bancos localizados estrategicamente de frente para a belíssima paisagem do Rio Lima e da ponte de origem romana, que dá nome à cidade.

Por sorte, o hotel em que ficaríamos estava localizado já bem próximo. Logo após nos instalarmos, fui a um supermercado para comprar as provisões para o dia seguinte, uma vez que não teríamos muitas facilidades para encontrar locais de refeição.


3º. Dia – Ponte de Lima – Valença

Último trecho em Portugal . Saímos cedo, por volta das 07:00 e pelo caminho fomos comendo o café da manhã, ou o “pequeno almoço” como chamam os portugueses. Para dar uma trégua aos calos, fiz a caminhada de sandálias.

Neste trecho, houve uma passagem curiosa: por baixo de um grande viaduto, havia um cachorro que nos observava de longe, recuou umas duas vezes à medida que avançávamos, mas começou a latir ferozmente ao chegarmos próximo a uma casa. Tive que suborná-lo com pedaços de pão para passar – uma espécie de pedágio.


Cruz dos Franceses

Um refresco em uma das fontes
disponíveis
 O desafio maior do trecho foram as várias subidas de descidas e terrenos irregulares em área de florestas. Um dos marcos pelos quais passamos foi a chamada Cruz dos Franceses, na travessia da Serra Labruja, que assinala o local onde a população emboscou os retardatários do exército de Napoleão, na invasão francesa de 1809.


Fontes de água no percurso nos ajudaram a refrescar e a repor o estoque de água. Paramos para almoçar o lanche que trazíamos (pão de trigo, salsicha, geléia, queijo, presunto, suco e Fanta de abacaxi – variedade não disponível no Brasil).

Acompanhamos por algum tempo um senhor e duas crianças que estavam treinando para a rota francesa, percorrendo 20 km por dia, até o Albergue situado na cidade de Rubiães. Chegando lá, um simpático voluntário nos informou que ainda faltavam 18 km. Respiramos fundo, seguimos adiante, já em um ritmo mais lento e chegamos a Valença, já ao escurecer, cumprindo um total de 38 km.

Vista do Rio Minho e da
Ponte Internacional, a partir da
Fortaleza de Valença
Nos hospedamos na Pousada Teotônio, que fica dentro de uma grande fortaleza, dos séculos XVII e XVIII, com uma magnífica vista para o rio Minho e para as terras da vizinha cidade de Tui, na Espanha.

Ainda encontramos energia para sair e jantar um excelente bacalhau com vinho em um restaurante, dentro da própria fortaleza, que abriga inúmeros outros prédios.
                                                                                                       Continua

6 comentários:

  1. Tenho muita vontade de fazer esse Caminho e lendo a sua aventura minha vontade só aumentou!
    Estou pesquisando a respeito. Quem sabe um dia também farei!
    Beijos,
    Carolina Lima

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    Respostas
    1. Valeu Carol !!! Vale muito a pena fazer o Caminho. Independente da motivação ou do ritmo que escolher, é sempre uma ótima experiência. Fique à vontade para trocar idéias. :-)

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  2. Fantastica a viagem. Parabens pelo post. Era exatamente o que estava procurando. Apenas uma duvida: como vcs voltaram para Cidade do Porto?

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  3. Boa Noite Jodrian !

    Quanto tempo dura essa viagem ?

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    Respostas
    1. Boa noite, Marlene
      Dura o tempo que você quiser. Depende de seu ritmo e de onde você quer começar a jornada. No nosso caso, foram 8 dias, mas há muitas variações, inclusive se quiseres seguir outras rotas que não a portuguesa.

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