segunda-feira, 23 de abril de 2012

Livro "127 horas"

A história é conhecida: em 2003, Aron Ralston, praticante de atividades outdoor, ficou seis dias preso com a mão direita sob uma rocha de cerca de meia tonelada, durante uma caminhada em um desfiladeiro em Utah, nos Estados Unidos. Como solução extrema, realizou uma autoamputação para conseguir sair.

Conhecer a história e seu desfecho, entretanto, não tira a curiosidade em ler este livro. Trata-se de um relato de sobrevivência, onde o autor e protagonista demonstra uma lucidez extraordinária, direcionando suas energias e pensamentos a procurar sair de uma situação crítica.

De fato, isso é uma das coisas que mais me chamou atenção no livro. Muitas vezes, nossas emoções nos fazem tomar decisões precipitadas ou desistir de algo, sem considerar outras possibilidades. Mesmo levando em conta que Aron estava em uma situação extrema - o que reduz as possibilidades de escolha - é instrutivo ver como ele vai resolvendo as situações em seu cativeiro, desde a posição para descansar, proteger-se do frio ou racionar os recursos que dispunha. Isso sem contar a preocupação em gravar depoimentos e ainda tirar fotos da situação - sim, o livro o mostra com a mão presa e outros detalhes do local.

Em alguns trechos, onde o autor relata suas outras aventuras, a leitura pode ficar um pouco mais cansativa, principalmente para quem não está familiarizado com as técnicas de escalada ou ski. São trechos necessários para contextualizar a situação, ou nas palavras do autor - ao pensar consigo mesmo:

"(...) Você criou este acidente. Você queria ficar assim. Você vem se encaminhando para esta situação faz muito tempo. Veja como foi longe para chegar a este ponto. Não se trata de receber o que merece - você está recebendo o que queria".

O livro, entretanto, não é para quem tem estômago fraco, principalmente (é claro), no trecho onde ele descreve detalhadamente como fez a amputação. Mas é difícil não desenvolver uma empatia com o aventureiro e se surpreender com sua resistência física e mental, após sobreviver a seis dias de desidratação e hipotermia e, com o braço amputado, ainda fazer um rapel e caminhar 12 quilômetros no deserto até ser resgatado.

127 horas - uma empolgante história de sobrevivência
Editora Seoman, 414p. 2011

Nota: A história também virou o filme "127 horas" em 2011. Dirigido por Danny Boyle, com James Franco no papel de Aron Ralston. Recebeu seis indicações ao Oscar.

Algumas reflexões retiradas do livro:


- "Acho que caminhar sozinho é o meu método próprio de atingir um estado transcendental (...) Infelizmente, assim que percebo que estou tendo um momento desses, o sentimento se vai, os pensamentos retornam, a transcendência se evapora"
- "Sem avaliar plenamente uma decisão quanto ao perigo potencial - isto é, quando tomasse uma decisão cuja atitude passava por cima de uma completa compreensão e mitigação do risco - eu estava jogando com a sorte. Lembrei-me da advertência de um instrutor de avalanche: 'Quando se joga com a sorte, é preciso ser capaz de vencê-la'"
- "Normalmente Steve [guarda florestal, que auxiliou no resgate] espera que a gravidade de um acidente seja proporcional ao terreno - consequências extremas condizem com ambientes extremos - mas este acontecimento foi catastrófico em relação à facilidade da topografia"

4 comentários:

  1. Muito bom, brother!

    Esse livro é um dos meus favoritos, faz a gente refletir bastante! Preciso comprar agora o dvd com o filme, que também é ótimo!

    Abração,

    Jonathan Padua

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    1. Verdade, Jonathan. Quem pratica algum tipo de atividade Outdoor ou quem lida com situações de maior risco não fica imune às reflexões. Gostei muito do livro. Ainda não vi o filme, mas está na minha lista.
      Grande Abraço,
      Jodrian

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  2. Eu vi o filme. É muito bom mesmo. Dá um pavor ver o cara preso nas pedras. Muito bom o blog. Vou seguir. Siga o meu se puder. Valeu.

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    1. Obrigado pelos comentários Joel. O livro, como sempre ocorre, é muito mais detalhado. Para quem gosta de aventuras, é um "prato cheio".
      Abraço

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