Ok, o título é um
spoiler. Mas, não chegar a um determinado ponto previsto em uma trilha

não significa que a aventura não valeu. Pelo contrário, as trilhas em El Chaltén sempre valem a pena, mesmo que tenhamos que abortar um determinado objetivo, visando preservar a segurança.
Nossa terceira trilha tinha como objetivo chegar à Laguna de Los Tres, ao pés do monte Fitz Roy. Saindo de El Chaltén, há duas opções básicas: seguir diretamente pela trilha que passa pela Laguna Capri (Trilha do Fitz Roy) ou tomar uma van que leva os caminhantes até a Hosteria El Pilar, a cerca de 14 Km da cidade, para começar dali a ida até a Laguna.
O trecho de El Chaltén até a Hosteria El pilar é um tanto montótono e não compensa ir andando. Optamos pela van.
A trilha para Laguna de Los Tres
Após cerca de 40 minutos entre El Chaltén e a Hosteria El Pilar, começamos nossa trilha às 09:10, entre os bosques de lengas na margem do Rio Blanco, com a trilha bem demarcada. Neste dia, o vento estava especialmente forte e as copas das árvores dançavam bastante.
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Leito quase seco do Rio Blanco |
Não consegui evitar o pensamento que um galho poderia se desprender a qualquer momento e cair sobre nós. O olhar para a natureza tinha um quê de preocupação. Felizmente, nada aconteceu. Lillian e Helder (Nerds Viajantes) seguiram na frente e nós fomos em um ritmo mais lento.
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Trilha nos bosques de lengas |
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Parte do trecho ocorre em área privada. Aqui é a entrada do Parque |
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Entramos na área do Parque Nacional e, de repente, uma bela visão do
Glaciar Piedras Blancas à direita, aos pés do Fitz Roy. Não tem jeito, por mais que tenhamos visto glaciares em nossa viagem à Patagônia, cada um tem uma beleza própria.
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Glaciar Piedras Blancas. Visão que tínhamos a partir da trilha |
Quando a trilha segue pelos campos mais abertos, o vento nos atinge em cheio e testa nossa persistência. Mas, é a Patagônia e quando estamos em seus domínios, temos que lidar com os rigores do clima.
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As montanhas inspiram a caminhada |
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Prestes a atravessar o Rio Blanco |
Seguimos adiante. Atravessamos uma pequena ponte de madeira e chegamos a uma espécie de cabana de uso público, que serve de apoio para um lanche ou descanso.
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Providencial, porque fica bem no início do trecho mais íngreme até a Laguna. Aproveitamos para comer alguma coisa, antes de encarar a subida.
A placa ao lado alertava: “Trilha sobre terrenos instáveis com encostas íngremes. Apenas para caminhantes experientes, bom preparo físico e botas de trekking. Com neve, chuvas ou vento os riscos aumentam”
Bom, era para isso que estávamos ali: encarar os desafios na expectativa de mais um objetivo a ser alcançado. |
O esforço de subir em uma trilha com muitas pedras soltas foi multiplicado pela ventania. Parecia que Éolo, o deus grego dos ventos, queria por à prova a tenacidade dos caminhantes que se aventuravam naquele dia. Encaramos rajadas – que soubemos depois, deviam estar em torno dos 80 -100 Km/h – parando inúmeras vezes, com receio de cair. Subindo lenta e cautelosamente, sem poder contar com muitas proteções, uma vez que a trilha é bastante exposta.
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Começo da subida para a Laguna de Los Tres |
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Enquanto Helder subia a trilha, podemos ver, lá no horizonte, as Lagunas Madre e Hija |
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Encontramos a Lillian sentada, ao abrigo de uma pequena árvore e o diagnóstico foi desanimador: muitas pessoas estavam descendo porque o visual da Laguna estava totalmente prejudicado e os riscos não compensavam. Rosana ficou aguardando, enquanto subi mais um pouco à procura de Helder. Quando o encontrei, estava descendo. Meio desanimado, mas consciente que era a melhor opção, dada a situação. Éolo venceu.
Retornamos na direção da
Laguna Capri, sempre acompanhados pelos fortes ventos (Éolo não desiste nunca?). Confesso que nunca tinha feito nenhuma trilha com tanta ventania, mas é assim que vamos acumulando novas experiências.
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Laguna Capri. Note o spray formado pelo vento. O vídeo mostra como era essas rajadas |
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Laguna Capri |
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Quando parece que não teríamos mais novidades na trilha, eis que um caminhante faz sinal para fazermos silêncio e caminhar devagar. Motivo: um pica-pau estava em plena labuta, atacando um tronco em busca de algum alimento. Suas garras o prendiam com firmeza à árvore, enquanto o martelar arrancava lascas de madeira. Ficamos alguns minutos fotografando e filmando, antes de encarar mais 7 Km que faltavam até El Chaltén. (veja o
vídeo neste post).
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Carpintero Gigante (Campephilus magellanicus) |
Àquela altura, já estávamos ansiosos para chegar de volta à El Chaltén e descansar. Para animar um pouco mais, uma fantástica visão do Rio de Las Vueltas:
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Rio de Las Vueltas |
A chegada à pousada demorou um pouco mais e por um bom motivo: paramos na
La Waffleria. Deliciosos lanches para caminhantes (
dispostos, cansados ou muito cansados). Para completar, um relax na piscina térmica da Pousada Kalenshen.
Vídeo
Triha para Laguna de Los Tres
Dicas e orientações
- O clima na Patagônia é instável. Não desanime se as perspectivas não forem boas – o tempo pode abrir e revelar paisagens fantásticas. Por outro lado, prepare-se para desistir em alguns casos.
- Bastões de caminhada são muito úteis para a subida e descida à Laguna de Los Tres
- Leve anorak e roupa para frio, além de um bom lanche para repor as energias.
- Para quem quiser acampar, as áreas disponíveis são: o Camping Poincenot (9,5 Km de El Chaltén) e Camping Laguna Capri (7 Km de El Chaltén)
- Se tiver tempo (e disposição), é possível caminhar até próximo do Glaciar Piedras Blancas. Veja o relato no blog Expedição Andando por Aí
Só vi o post agora, Jodrian!
ResponderExcluirObrigada pela divulgação...
[]'s
Boas dicas merecem ser compartilhadas :)
ExcluirGrande abraço