terça-feira, 3 de julho de 2012

Abra sua janela

Quando saímos de nosso conforto para encarar trilhas, é certo que o fazemos para vislumbrar novos territórios e viver novas experiências. Acredito que uma metáfora interessante para isso são as janelas que abrimos ao longo dos percursos - todas as paisagens são novas, todos os horizontes são diferentes daqueles com os quais estamos acostumados.


Durante a travessia Guiné-Andaraí, na Chapada Diamantina, ficamos hospedados nas casas de moradores da região. Tudo muito simples, mas acordar de manhã, abrir a janela e ver as nuvens baixas percorrendo os paredões de pedra é um luxo para poucos. Não querer sair da cama adquire um novo significado.





A imensidão dos Lençóis Maranhenses nos faz imaginar que estamos sós. Mas existem oásis onde algumas famílias nos acolhem em suas instalações rústicas. Pela janela do dormitório coletivo, vemos que a vida pode ser simples e, por um momento, imaginamos como seria largar tudo e passar um tempo por lá.




A simplicidade também é uma marca nas hospedagens da Serra do Cipó, em Minas Gerais. Nas casas de D. Ana Benta e Seu Zé de Olinta, a visão que tínhamos, em dias de neblina, revelavam parte do cotidiano de quem tem uma íntima relação com o lugar.






Já na pousada em Socorro-SP, deitado na cama após o café da manhã, meio sem ângulo, observava as montanhas que pareciam dizer: "Pode nos contemplar, mas não demore muito. Deixe de manha e venha caminhar. O ar é ótimo aqui fora". Como resistir a um convite destes?


Um dos "Poemas Inconjuntos" de Alberto Caeiro ( Heterónimo de Fernando Pessoa) [1] traduz bem estes momentos:



Namoradeiras em Pirenópolis - GO 
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

11 comentários:

  1. Meu caro Jodrian, não sabia dessa sua veia poeta em parceria com a fotografia. Estamos encantados com a postagem "Abra sua Janela", parabéns amigo e vamos viajar e como já passei do 6.0 (64), fico curtindo suas andanças. A frase que criei para minha idade: "Viajar é a melhor clínica médica do mundo, é o melhor remédio que existe para a Melhor Idade"

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    1. Obrigado Walter!!. As viagens nos fazem escrever alguns posts mais inspirados. Vamos juntos :)

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  2. Que lindo texto, Jodrian! =)

    Não tenho o hábito de comentar os posts que acabo lendo nos blogs, mas aqueles que mexem mais comigo, não posso deixar passar. Perfeita a metáfora da janela. Inspirador!

    Grande beijo, Vanessa Aguilera

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    1. Obrigado Vanessa!. Havia começado a escrevê-lo no ano passado, mas esperei mais algumas janelas :)
      Abraço
      Jodrian

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  3. Muito bacana o texto e as fotos, Jodrian, parabéns!

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  4. Certos luxos são para poucos!
    Lindo texto Jodrian, Parabens ;)

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    1. Obrigado Maurício. Com um pouco de disposição podemos alcançar estes luxos com muito mais facilidade que outros que não agregam nada.
      Abração

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  5. Muito legal o post, bem criativo.

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  6. Que lindo!
    Lembrei de minhas janelas ao longo da vida :)

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