O título, homônimo da série que foi veiculada no canal Multishow, logo reflete o que o leitor pode esperar: destinos que sua mãe não gostaria de saber nem de longe. E aí reside, é claro, o grande diferencial destes relatos: os quatro amigos visitaram países que não aparecem nos roteiros turísticos tradicionais e que também nos fazem consultar o mapa mundi: Iraque, Etiópia, Irã, Coréia do Norte, Afeganistão, Mianmar…
Se o objetivo fosse apenas turístico, o livro já seria atraente. Entretanto, as viagens e os relatos vão muito além e apresentam histórias e pessoas, desafios e esperanças, a partir da convivência com os habitantes locais. Os inevitáveis “perrengues” que estes destinos reservam aos que nele se aventuram também são mencionados.
"Seguimos buscando pelo mundo histórias e pessoas que sirvam de motivação. Que possam inspirar ou revoltar, mas sempre provocar uma reação, uma necessidade de questionar, agir e transformar"
Impossível não ficar surpreso com algumas descobertas, a exemplo do projeto de um jovem australiano que, a partir de aulas de skate, envolve os jovens em aulas de inglês, informática, ecologia e cidadania no Afeganistão ou pensar sobre a visão das iranianas sobre a cultura ocidental. É o tipo do livro que provoca reflexões, sem ser chato.
Apesar de não ser exatamente um guia de viagens, o livro inclui algumas dicas práticas para os viajantes – especialmente aqueles que pretendem visitar destinos pouco conhecidos. André Fran nos apresenta uma “Escala de Segurança” para avaliar os territórios potencialmente hostis e um “Manual para os Nerds na Estrada”, com algumas dicas para “sobreviver eletronicamente” nestes locais, mas que são úteis, infelizmente, para vários locais no Brasil devido à nossa crônica falta de uma boa infra-estrutura.
Confesso que senti falta de um maior detalhamento de algumas passagens – como o capítulo sobre a Somália ou sobre os Campos de Refugiados em Mianmar e na Etiópia. Por outro lado, acho que o capítulo sobre o treinamento de sobrevivência na Itália poderia ser resumido. Mas, entendo que escrever um livro sobre tantas experiências é um processo, talvez dolorido para o autor, de selecionar e excluir e, afinal, representa sua visão sobre o que considera importante.
Certamente, quem acompanhou a série pela televisão pode ter uma visão complementar bem interessante ao ler o livro. Acompanhei na TV apenas de relance – e me arrependo. Agora, pelo menos, pude viajar nas palavras.
"Procuramos representar o viajante comum e carregamos conosco as mesmas expectativas e 'pré-conceitos' (no sentido mais inocente que o temo pode ter) de um cidadão do mundo à procura de expandir seus horizontes"
Autor: André Fran
Editora Record, 2013.
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