Histórias de sobrevivência extrema são inspiradoras. Nos mostram do que as pessoas são capazes, mesmo em situações absurdamente desfavoráveis. Entretanto, são as lições que podemos extrair dos depoimentos o grande legado que os sobreviventes nos deixam.
Em primeiro lugar, o que poderia ter evitado a situação. Depois, como as atitudes e decisões facilitaram ou dificultaram a sobrevivência. Sim, é angustiante pensar nos momentos descritos, mas é, sobretudo, útil. Como pondera o autor: “Analisar atitudes corretas ou incorretas tomadas durante uma escalada. após sua realização, é tão importante quanto estar bem preparado fisicamente ou ser talentoso”.
Durante nossa caminhada para o Acampamento Base do Everest, assistimos o filme que conta a saga de Joe Simpson: “Tocando o vazio”. Chegando ao Brasil, procurei adquirir o livro e como sempre, devorei cada capítulo.
“Então, aquilo que eu esperava aconteceu de repente. As estrelas se foram e eu caí. Como algo que retorna à vida, a corda chicoteou violentamente contra meu rosto e caí silenciosamente, infinitamente, em direção ao vazio, como se estivesse sonhando que caía” – Joe Simpson
Siula Grande Fonte: Wikipedia |
O palco do drama é a Cordilheira dos Andes, no Peru. Especificamente a face oeste do Siula Grande, uma montanha com 6.344 metros de altitude. Em 1985, Joe Simpson e Simon Yates chegaram ao cume, através de uma rota inédita.
Mas, como diz um conhecido ditado nas montanhas: “Chegar ao cume é só metade da tarefa”. E Joe Simpson superou a outra metade de uma forma inimaginável, tornando o desafio de sobreviver algo muito mais grandioso do que a conquista da difícil face oeste. Força de vontade e superação definem a jornada de volta de Simpson.
Confesso que me surpreendi com outro aspecto do livro: a riqueza de detalhes. Como lembrar de tanta coisa? Em situações de stress e perigo extremo, será que a memória consegue devolver tantos detalhes ao escritor? Somado a isso, a dramaticidade e o peso da narrativa em primeira pessoa trazem um texto que prende o leitor. Aliás, o relato também é feito por Simon Yates, complementando e apresentando o ponto de vista do companheiro que tomou a difícil e racional decisão de cortar a corda que os unia.
Tocando o Vazio
Companhia das Letras, 2004, 210p.
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