Conhecer
um autor antes de seu livro dá uma perspectiva diferente à narrativa. Imaginamos que estamos em uma conversa em um dos lodges do Himalaya, entre uma e outra xícara de chá de limão, ouvindo as situações descritas com a entonação, as expressões faciais e as risadas do Manoel Morgado, que foi nosso guia no trekking ao Acampamento Base do Everest.O Livro relata suas escaladas ao Cho Oyu (a Deusa Turquesa - 6ª montanha mais alta do mundo 8.201 m), em setembro de 2009 e ao Everest (8848 m), em maio de 2010.
Além dos relatos técnicos e descrições de todo o processo de preparação, aclimatação e escalada, que atrai todo interessado neste tipo de atividade, o livro traz uma perspectiva muito pessoal – que não seria diferente, se tratando de Manoel Morgado. Seu relacionamento com a gualtemalteca Andrea Cardona permeia os capítulos e, de certa forma, desmistifica os montanhistas de 8000 m como super-heróis livres de frustações, angústias, ciúmes ou outros sentimentos dos “meros mortais” que admiram suas conquistas.
Como exemplo, em dois trechos de suas reflexões durante a escalada ao Cho Oyu, sentimentos opostos são expostos:
“Após 20 anos de sonhos, estou onde tantas, tantas vezes, tinha imaginado estar. Tento compor a imagem que tinha das pessoas que haviam escalado um 8 mil, meus heróis, com estar ali no cume do Cho Oyu. Será possível que eu agora também faça parte desse cume tão seleto?”
“E assim seguimos discutindo em círculos e não chegamos a lugar algum. Volto para a minha música sentindo-me deprimido. Porque será que não conseguimos estar felizes, agora, apenas um dia após termos conseguido nosso grande sonho? Esse é o problema com sonhos., eles nunca conseguem nos dar tudo aquilo que imaginávamos. Na vida real tudo é mais complicado”.
Portanto, o relato é também uma busca interior: “…quero tentar descobrir a raiz exata da fascinação que as montanhas exercem sobre o meu ser”, reforçando a constatação que a jornada rumo ao topo de uma montanha é tão ou mais rica que a chegada ao cume.
É desta forma, a leitura que flui rápida ao longo das páginas se aproxima da realidade – digo se aproxima, por que só vivendo-a para saber como são dois projetos desta envergadura. As dificuldades e desafios das escaladas em altidude, as estratégias de superação – tanto física como psicológica, os imprevistos, belas fotos e tudo o que se espera de um bom livro de montanhismo estão lá. Vale a pena a leitura!
Sonhos Verticais – escalada ao Cho Oyu e Everest
Editora Artes e Ofícios, 2012
216p.
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