sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Monte Roraima


Um dos roteiros mais legais que fiz em 2010 foi o trekking ao Monte Roraima. Depois de pesquisar as opções de empresas de Turismo de Aventura que realizavam o percurso, escolhi a Roraima Adventures. Com experiência neste destino, pesou na escolha o fato da empresa estar no processo Aventura Segura da ABETA. 

Inscrições feitas, comecei a preparar a ida, tanto meu preparo físico, através de caminhadas e corridas, como a seleção e compra dos equipamentos que faltavam. Ajudou o fato de contar com informações detalhadas da Roraima Adventure e com relatos disponíveis na internet.

Seguimos basicamente um padrão adotado pelas empresas que guiam as pessoas ao Monte Roraima. No caso, fizemos o percurso em 8 dias, assim divididos:

Pouco tempo de trilha e já avistamos o objetivo:
Monte Roraima ("a mãe das águas")
 à direita, com o Monte Kukenan
("o pai dos ventos")
à esquerda
1º. Dia (06/11/2010) Saída do grupo de Boa Vista de van às 05:00 com destino a Santa Elena de Uairén, na Venezuela, após  passagem pelos postos de imigração de fronteira. Tomamos café da manhã e saimos para Paraytepuy em carro com tração 4x4. Organização da equipe de carregadores e trekking de mais ou menos 4  horas  até  o  acampamento  no  Rio  Tek,  num  percurso  de  15  quilômetros.  O acampamento, a 1050m de altitude, conta com uma infra-estrutura de apoio bem rústica e é cuidado por uma família que ali reside. Nesta noite, um dos guias contou 52 barracas na área, entre os grupos que iam e vinham no Monte Roraima.

Acampamento do Rio Ték
2º dia (07/11/2010): Café da manhã e saída rumo à base da montanha. Percurso de 08 quilômetros com caminhada 05 horas, com travessias dos rios Ték e Kukenam. Apesar de o percurso ser menor, o esforço foi maior devido ao desnível percorrido e trechos com maior irregularidade no terreno. Chegamos ao acampamento base às 12:30 e o resto do dia foi livre, com direito a mais um banho gelado num riacho próximo. Neste ponto a altitude já alcança 1870m.

  dia  (08/11/2010):  Café  da  manhã  e  saída  do acampamento base rumo  ao  topo. A trilha segue a chamada rampa do Roraima, de  aproximadamente 4,5 quilômetros com duração de pouco mais de 04 horas de subida. Este foi um dos momentos mais bonitos da trilha, com paisagens belíssimas, destacando-se o "passo das lágrimas", onde uma cachoeira fina derrama suas gotas e a pedra com o rosto de Macunaima. Seguimos para o “Hotel” Central, que fica justo atrás do cume do Monte Roraima (formação “Maverick”, assim chamada porque a silhueta lembra o carro, com 2875m de altitude). A área do topo possui vários destes refúgios em pedra sob os quais montam-se acampamentos. A tarde foi de descanso, com direito a mais um banho bem gelado, desta vez nas chamadas “jacuzzis” (piscinas naturais). Tivemos a primeira noite no topo e fez um bom frio.


Maverick ou El "Carro"
Jodrian admirando a paisagem na
região ds ventanas

4º dia (09/11/2010): Acordamos cedo e antes do café da manhã, saímos para uma caminhada de 2h (ida e volta) à região chamada de “ventanas” (janelas). O tempo bom permitiu um visual fantástico. Vários Mb da máquina fotográfica foram consumidos com vontade. Voltamos, tomamos café e saímos rumo ao Ponto Triplo (ou tríplice fronteira entre o Brasil, Venezuela e Guiana), num percurso com trechos bem acidentados. No caminho, o guia decidiu mudar o roteiro original que passava pelo Vale dos Cristais devido ao clima e à hora, de modo que o fizemos no 6º. dia. Antes de chegar ao “Hotel” Quati, no lado brasileiro do Monte Roraima, passamos por um grande buraco, de onde se vêem pequenas galerias, chamado de “El fosso”. Se não fosse proibido por questões de preservação, seria um local formidável para fazer um rapel. Neste dia, pudemos ter uma melhor percepção do topo: plantas insetívoras, bromélias e orquídeas, formações rochosas que lembram toda sorte de animais, brumas que batem nos paredões e sobem. Fantástico. Saldo do dia: 7h de caminhada. Segunda noite no topo

Nossa barraca no interior do "Hotel" Quati
5º dia (10/11/2010): Saímos para um passeio rápido para ver o nascer do sol (bom, na verdade, chegamos um pouquinho depois), vencendo os  500m até o paredão no lado brasileiro, de onde avistamos a floresta e logo adiante o Roraiminha. Após o café da manhã, sem precisar carregar a mochila principal, que ficou no Hotel Quati, seguimos para a visita ao Lago Gladys e à região da “Proa” do Monte Roraima, onde tiramos fotos com o visual abaixo das nuvens que ora “abriam” espaço para a imensidão verde lá embaixo e ora deixavam a paisagem toda branca. Almoçamos, passamos um tempo e voltamos para o “Hotel”. Ao todo foram 6,5 h de caminhada. Nesta terceira noite no topo, quebrei meu recorde: às 18:45 já estava deitado na barraca.

Lago Gladys
6º dia (11/11/2010): Choveu bastante durante toda a madrugada e temi pelo retorno. No Café da manhã, entretanto, tínhamos apenas uma chuvinha fina.  Retorno passando pelo Vale dos Cristais, muito bonito, onde estas pedras jazem pelo chão e nas pedras, parecendo neve. Se houvesse Sol, certamente seria mais belo ainda. A trilha foi um pouco menos íngreme, mas de certa forma mais perigosa, uma vez que caminhamos um bom tempo acompanhados de neblina e, com chuva, as pedras estavam escorregadias. Quatro horas e meia depois chegamos ao “Hotel” Arenal. Jantamos com os relâmpagos faiscando no horizonte.

7º dia (12/11/2010): Iniciamos a descida às 07:40, após o café da manhã. O trecho de volta foi muito exigente para todos os ligamentos e músculos, especialmente para os joelhos. As pedras, ainda molhadas, requeriam cuidados a cada passo. O tempo esteve coberto pela neblina e a concentração foi só na descida. Interessante cruzar com quem estava subindo: várias vezes uma troca rápida de cumprimentos e impressões sobre o que se espera. Assim como na ida, várias nacionalidades se encontram: brasileiros, russos, dinamarqueses, austríacos, ingleses, etc. Após 3h de descida, almoçamos e seguimos direto para o acampamento do Rio Ték.

Nosso grupo com os dois guias. Em pé, da esquerda
para a direita: Marcelo (guia), Flávio, Antônio, Cíntia,
Ronald e Jodrian. Agachados: Hugo e Léo (guia) 

8º dia (13/11/2010): Última etapa. Tomamos café da manhã e caminhamos rumo à aldeia de Paraytepuy, de onde iniciamos toda a aventura. Almoçamos em São Francisco de Yuruani e seguimos de volta a Santa Helena e daí para Boa Vista.










Algumas impressões e dicas:

·     A caminhada é exigente e um bom preparo físico é fundamental
·     Há muita incerteza quanto ao clima. Tivemos muita sorte de não ter chuva significativa. Na volta, por exemplo, o topo já estava fechado com nuvens carregadas.
·     Independente do clima bom, sempre há muita umidade e os sacos plásticos para isolar o conteúdo da mochila, botas e roupas são fundamentais
·     Da mesma forma, tudo que puder ser impermeável, melhor, incluindo as botas, uma vez que muitos trechos apresentam pequenos charcos
·     Um bom e confortável isolante térmico também é essencial. Todos os acampamentos ficam sobre chão duro.
·     Perto dos rios (Ték e Kukenam) não se deve poupar repelente nem roupas que cubram braços e pernas. Os mosquitos chamados de puri-puri atacam com voracidade e as mordidas coçam.
·     Há trocentos mil motivos para fotos. Então, cartão de memória e baterias extras não podem faltar
·     Protetor solar também não deve ser esquecido. Na volta, vi uma caminhante de outro grupo com queimaduras de 2º. Grau no ombro.
·     Como em qualquer caminhada, contar com um grupo legal é muito estimulante. Tivemos sorte. A turma composta pelos paulistas Ronald e sua irmã Cíntia, Dr. Antônio, médico carioca, pelo Hugo, de Foz do Iguaçu e pelo mineiro Flávio, manteve sempre um espírito legal e integrado
·     Há opções de guias mais baratos em Santa Helena. Porém, a Roraima Adventures demonstrou profissionalismo e cordialidade sempre. O bom relacionamento dos guias Léo e Marcelo com os locais, com outros guias e até com os militares do exército venezuelano nos postos de controle também passava a segurança que tudo correria bem. Recomendo-a
·     Momentos de satisfação: meias secas e cuecas limpas
·     É possível tomar banho todos os dias. A água é muito fria, mas é altamente revigorante após uma longa caminhada
·     Além da mochila de hidratação ou dos cantis, vale a pena levar uma pequena caneca, feita de material leve, para preparar alguma bebida e coletar água nos pontos disponíveis
·     Uma sandália tipo papete é muito útil para uso nos acampamentos, sair para tomar banho, etc. Dar um tempo na bota é sempre um alívio. Como perdi a minha na travessia do Rio Kukenam, logo no 2º. dia (oferenda involuntária a Macunaima), fiquei descalço em alguns momentos
·     Para quem precisa ou prefere, pode-se contratar previamente carregadores pessoais para levar a mochila principal, fazendo-se o percurso apenas com uma mochila de ataque, com os itens pessoais de uso mais freqüente. Este contrato deve ser feito ainda em Boa Vista. Do grupo, apenas eu e a Cíntia optamos por carregar nossas próprias mochilas.

Um artigo do jornal O Globo também traz informações sobre este tema (dica da Roraima Adventures):
A conquista de um gigante chamado Monte Roraima

Atualizado em 19/03/2011 para acréscimo de informações

6 comentários:

  1. Jodrian, você é um exemplo de como a vida deve ser vivida, aproveitando ao máximo os atrações naturais. Admiro você e um dia vou te convidar para irmos a uma aventura passando pela cordilheira e chegando até a região de Sud Yungas, em La Paz, Bolívia. Acho que irá gostar bastante do conjunto geográfico também!

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  2. Olá Jodrian! Obrigada por postar o relato. Me relembrou ótimos momentos!
    Esta viagem foi uma das melhores que eu já fiz!
    Um grande abraço, Cintia.

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  3. Ótimo post, Jodrian. Este está na minha bucket list e suas dicas são muito boas.

    Abraços,

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    Respostas
    1. Obrigado Helder!
      Fique à vontade para entrar em contato e tirar qualquer dúvida.
      Abraço

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  4. Jodrian!
    Precisa de passaporte?
    Pretendemos fazer o Monte Roraima em breve. Obrigada pelas dicas!
    Carla Nogueira
    www.expedicaoandandoporai.com

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    Respostas
    1. Olá, Carla
      Há um acordo no Mercosul que permite Carteira de Identidade (http://www.brasil.gov.br/sobre/turismo/documentacao/mercosul-com-rg). Preferi o passaporte. Veja também o relato mais recente no Blog Territórios (Roberta Martins)
      Abraço,
      Jodrian

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