sábado, 2 de julho de 2011

Travessia Guiné-Andaraí (Vale do Pati - BA)



Há locais que merecem repetidas visitas para explorar seus encantos. O Vale do Pati na Chapada Diamantina é certamente um deles. A simplicidade do nome Pati, que é um tipo de palmeira nativa, contrasta com a grandiosidade das belezas naturais - são diversos paredões rochosos que revelam novas formas a cada novo ângulo de visão, cores magníficas no nascer e por-do-sol, cachoeiras que são "descobertas", flores diversas - enfim, um dos mais bonitos locais para caminhadas no Brasil. Quisemos aproveitar o feriado de Corpus Christi e, em família, viajamos de Natal até Salvador, para daí seguir para a Chapada Diamantina.

1o. dia - Chegada a Lençóis (23/06/2011)

Rodoviária lotada
Obviamente, um monte de gente também aproveita os feriados e aí já viu: a Rodoviária de Salvador estava superlotada. Apesar do desconforto, apanhamos as passagens que haviam sido compradas previamente, encaramos as filas e saímos no horário. Depois da multidão de pessoas, o engarrafamento quilométrico na BR 324 - sorte que o ônibus da Real Expresso era confortável. A viagem durou pouco mais de 9 horas (atraso de 3,5h em relação ao previsto).

Chegando na cidade de Lençóis (distante 412 km de Salvador), fomos muito bem recebidos pelo pessoal da Zentur e seguimos para um dos chalés recém-construídos pelo proprietário. Banho tomado e voltamos para a cidade, para acertar os últimos detalhes da caminhada e jantar no ótimo Restaurante "Fazendinha & Tal", que também possui um alambique. Recomendado.

2o. dia - Início da trilha (24/06/2011)

(1) Visão de satélite do Início da Trilha (2) Equipe Mango, com o guia Pardal à direita

Gerais do Rio Preto
Tomamos um ótimo café da manhã e saímos em uma Toyota até o povoado de Guiné. O trajeto inclui um trecho na BR 242 (Bahia-Brasília) e mais outros em estrada sem asfalto, com duração total de 2,5h. A condução nos deixou ao pé da Serra do Beco. Logo de início uma boa subida e um visual que já impressiona. Seguimos, acompanhando nosso conhecedor e conversador guia - o "Pardal" - pelas chamadas "Gerais do Rio Preto" por umas 3,5h em terreno quase todo plano até chegar a um belíssimo mirante, com a visão mais bonita até então. Paramos para um merecido lanche reforçado e depois de muitos clicks fotográficos, iniciamos a descida íngreme até chegar à trilha que nos levava à primeira hospedagem: a Casa do Sr. Wilson.

Mirante, com a visão da trilha que
nos levaria à primeira hospedagem 
3o. dia - Morro do Castelo (25/06/2011)

Entrada da Gruta
Acordamos por volta das 07:15, tomamos um ótimo café, sempre contando com a simpatia de D. Maria, Sr. Wilson e sua filha Nara. Deixamos as mochilas maiores na casa e partimos para o Morro do Castelo. Subida exigente, com vários trechos de mata fechada. Cobrimos o percurso em 2h até chegar à entrada de uma gruta, que atravessamos com o apoio de lanternas até chegar a mais um panorama belíssimo do Vale do Pati - a região é realmente privilegiada.
O local mereceria horas de contemplação. De volta à entrada da gruta, fizemos mais um bom lanche à base de frutas e sanduíches e retornarmos à Casa do Sr. Wilson em mais 2h de descida.

Visual na saída da gruta
Detalhe: nosso esperto guia localizou duas cobras venenosas nestes trechos. Na subida, uma cascavel e na saída da gruta uma "cabeça-de-capanga". O visual bonito não autoriza relaxar os cuidados no Vale do Pati!

Uma pequena pausa para descanso na casa do Sr. Wilson e rumamos para a Cachoeira das Andorinhas, a cerca de 45 minutos de caminhada. Pequena, mas bonita e com um lago de águas geladas que faz um "tratamento crioterápico" para os músculos cansados. Os dois passeios fizeram o dia valer muito.
Cachoeira das Andorinhas
Saímos da Casa do Sr. Wilson e fizemos uma pequena caminhada noturna até a nossa nova hospedagem. A casa da simpática Sra. Raquel, que trouxe uma novidade gastronômica para nós: uma espécie de purê de banana verde - um dos inúmeros pratos gostosos do jantar.

4o. dia - Poço da Árvore (26/06/2011)

Neblina nos paredões, com visão do
interior no quarto

De manhã cedo, fomos brindados com mais um espetáculo desta região: os paredões com a neblina percorrendo suas laterais: fantástico. Tomamos um bom café e saímos para mais 2h de caminhada até o chamado "Poço da Árvore", assim chamado devido a uma grande árvore da qual as pessoas pulavam no lago formado por uma das inúmeras cachoeiras no Rio Pati. A área é muito bacana e mais uma vez água gelada significou um banho revigorante. Passamos um bom tempo por lá. Nosso guia preparou na hora uma Guaca Mole e Yago fez um suco de laranja especial, adoçado com mel e completado com água das montanhas. O que precisamos mais?.
Poço da Árvore

Arrumamos as roupas que ficaram secando ao sol e pegamos a trilha novamente até a próxima hospedagem: a Casa do
Jóia - mais 2,5 horas de caminhada, acompanhada aqui e ali pelo som metálico do piar da araponga. Este trecho não foi muito exigente, a maior parte do caminho margeia o rio, sem subidas ou descidas muito íngremes.

5o. dia - Saída por Andaraí e visita ao Poço Azul (27/06/2011) 

Mulas subindo a Serra do Ramalho
Começamos o dia bem cedo: acordamos às 5:00, tomamos café às 05:30 e às 06:00 já estávamos encarando a subida da Serra do Ramalho. A preocupação em sair cedo tinha razão: queríamos ver os raios do sol à tarde, no Poço Azul. Começar a caminhar de manhãzinha tem seus encantos: temperatura amena e a beleza do sol iluminando os paredões pouco a pouco. Duas horas seguindo pela trilha dos tropeiros mais antigos, dos tempos do café e do garimpo e chegamos ao topo. Daí em diante foi só descida, pela Ladeira do Império - cerca de 4,5 horas. Ao final, já cansados pelo esforço e pelo sol forte, chegamos à Cidade de Andaraí, para uma pequena pausa em uma sorveteria local. A van da empresa já nos esperava para seguirmos viagem até o Poço Azul, no caminho de retorno a Lençóis.

Flutuando no Poço Azul
Chegada em Andaraí
Localizado em Nova Redenção, o Poço Azul é uma atração à parte. Com as entradas pagas, trocamos de roupa, recebemos os coletes salva-vidas e descemos a escada de madeira que dá acesso ao poço propriamente dito. No caminho, enxames de abelhas inspiram cuidados (bem que poderiam remanejá-los). Chegando ao Poço, há uma espécie de deck de madeira onde recebemos as máscaras e snorkels e daí fomos curtir a indescritível sensação de "flutuar" em um lago de profundidade entre 4 a 21 metros, com águas cristalinas, vendo os raios de sol que entram por uma fenda na caverna formarem um feixe luminoso azul ao entrar na água. Curtimos bastante.

Aí terminou nossa aventura na natureza da Chapada Diamantina. Voltamos a Lençóis, tomamos um banho na pousada do pessoal da Zentur, que aliás, foram muito atenciosos e simpáticos em todos os momentos, cuidando de todos os detalhes para que nos sentíssemos bem. A viagem propriamente dita só terminaria após novo trecho de ônibus e avião em retorno a Natal.

A hospedagem na casa de moradores

Vale a pena destacar um dos grandes atrativos desta travessia que é a hospedagem na casa de moradores. Integrando-se perfeitamente
ao ambiente da Chapada, as casas são instalações simples, muitas vezes com chão de barro batido, mas sempre bem cuidadas e limpas e contando com um ingrediente especial: a simpatia e a hospitalidade de seus proprietários. Em todas há energia elétrica, alimentada por painéis solares que garantem iluminação nas áreas comuns e a manutenção de geladeira. A alimentação também merece destaque: a comida é muito saborosa e farta - ótimo para preparar o corpo de manhã e repor as energias gastas à noite.

Imagens das casas onde ficamos hospedados

Para saber mais:

 http://guiavaledopati.blogspot.com
 http://www.guialencois.com.br/
 http://chapada-diamantina.info
 http://www.cprm.gov.br/gestao/ecotur/chapada_portugues.pdf (Mapa da região)

4 comentários:

  1. Vale do Pati me surpreendeu pela beleza. Considero um dos lugares mais bonitos para realizar trilhas no Brasil. Nossa trilha durou 04 dias de caminhada, mas há outras opções, saindo do Vale do Capão ou indo para Mucugê. O bom do Vale do Pati é que são tantas opções que a trilha é montada de acordo com a sua disponibilidade de dias e do pique que você tem.

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    Respostas
    1. Aventura encantadora moçada. Parabéns pela experiência e obrigado por comungar dela com os que tem interesse. Eu e minha família fomos este ano e vamos ano que vem em janeiro, e um dos atrativos é uma caminhada de dois dias no Vale do Pati. Valeu as dicas, são preciosas!!

      Charles Almeida
      Maceió AL

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    2. Obrigado pelos comentários e pela visita, Charles
      Grande abraço e boas caminhadas em 2014

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  2. LENÇÓIS
    Na charmosa Capital da Chapada,
    a riqueza não é mais o diamante,
    mas é a sua fascinante natureza
    com a sua paisagem exuberante.

    A Chapada Diamantina é linda,
    não tem palavra para descrever.
    Sua arquitetura é a obra de arte
    que a natureza não pôde fazer.

    Os morros fazem esculturas,
    o som vem das cachoeiras,
    o tesouro fica nas cavernas
    com verdes vales de palmeiras.

    Nessa terra de aventura,
    o divertido é caminhar.
    Mas pode navegar no Marimbus
    ou ir ao Paraguaçu para banhar.

    Autor: Sebastião Santos Silva da Bahia

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