Na caminhada de volta do Acampamento Base do Everest, já próximo a Lukla, topei com o anúncio aí abaixo Na hora, fiquei pensando: “Estão divulgando suas bebidas ou caipirinhas do Brasil?”.
No Brasil, não é raro associar destinos como China, Egito, Turquia, Thailandia, Nepal ao termo exótico (Também já nos perguntaram porque escolhemos tantas viagens exóticas). Daí, fiquei pensativo quando vi esta propaganda lá no Nepal.
Exótico é um adjetivo que encontramos em muitas peças de propaganda turística e, como qualquer adjetivo, está diretamente ligado à percepção de quem o utiliza.
O Houaiss nos explica que esta palavra, influenciada pelo francês, significa: “Não originário do país em que ocorre, que não é nativo ou indígena; estrangeiro; que é esquisito, excêntrico, extravagante”.
Ora, então Las Vegas, Paris, Amsterdam, Barcelona também são destinos exóticos aos brasileiros. Se a dança aos pulos dos Masaai é exótica, o forró também o é. Se comer gafanhotos é exótico para nós, fico imaginando o que alguns pensam quando nos veem comer carangueijos. Uma visita a uma tribo na Amazônia é tão exótico quanto um “Favela Tour” no Rio de Janeiro. Em outras palavras, tudo é exótico para alguém.
O exótico também gera renda. Mediante pagamento, muitos tiram fotos com os falsos “homens santos” pintados de amarelo no Nepal, os atores vestidos de gladiadores no Coliseu de Roma ou mesmo com os burrinhos nas dunas de Jenipabu. Certo. Se há quem esteja disposto a pagar, haverá quem esteja disposto a vender. É a lógica de mercado (vide foto no início deste post).
Muitas vezes, porém, o termo vem com uma carga de preconceito, associado a uma certo ar de superioridade de quem o aplica. É exótico porque não é normal. Não é a nossa normalidade. É exótico porque se enquadra em alguns estereótipos que foram moldados ao longo da vida, não raro influenciados pela visão de mundo dos países “civilizados”. É exótico porque não se encaixa em nosso paradigma ocidental. Pode até ser inconsciente, mas tem implicações reais.
Conhecer outras culturas, conviver com os costumes locais - ainda que no curto espaço de tempo de uma viagem – entender umas poucas palavras na língua local, às vezes com um significado muito maior que as traduções literais. O exótico vai perdendo sua força discriminadora quando procuramos enxergar o mundo com a mente mais aberta. Em seu lugar, encontramos realidades diferentes da nossa (claro! é para isso que viajamos), mas tão comuns quanto qualquer outra.
Nosso olhar é atraído pelo que é diferente, mas como essa diferença é interpretada tem importância fundamental em nossa forma de lidar com ela.
Concordo que o Exótico é uma ferramenta de Marketing mal usada
ResponderExcluirAdoro um fluente em espanhol falando que algo é "Esquisito" para nós soa algo ruim e para eles um elogio. (esquisto é delicado/requintado em espanhol).
Americanos e Ingleses adoram Exotics, tudo que não é Anglo é exótico a eles. Caçar uma raposa em família e depois tomar um chá, para eles é normal.
E assim vai.
Bela questão!!
Abraço!
@GusBelli
Obrigado pelos comentários, Gustavo.
ExcluirAcredito que todo viajante tem forte contato com estas questões
Grande abraço
oi Jodrian! Fiquei particularmente interessada em ler teu post pela foto que o acompanha. De fato, ser exótico é uma questão de perspectiva, ainda que seja a perspectiva do turista tradicional buscando fotografar "achados" no destino... sem avaliar bem o que está levando para casa. Boa reflexão, combina com o Nepal. rs
ResponderExcluirOlá, Adriana
ExcluirPerspectiva é a palavra-chave! E é isso mesmo. Em muitas viagens fotografamos muitos achados que trazem aquele "Click". Alguns só processamos depois. O anúncio de "Exotic Drinks" foi o que me atraiu naquele momento. Obrigado pelos comentários,
Grande abraço