sexta-feira, 18 de março de 2016

Turismo de Aventura: o RN precisa pegar essa trilha


O 7º Fórum de Turismo do Rio Grande do Norte que foi realizado nos dias 17 e 18 de março de 2016
teve como tema central "Promover destinos, desenvolver regiões". Tive o prazer de iniciar o ciclo de palestras abordando o turismo de aventura, uma oportunidade de tratar de um assunto que traz muita satisfação, tanto do ponto de vista pessoal, como turista de aventuras, quanto pelo trabalho de consultoria em gestão, já aplicado várias vezes neste segmento.

Um resumo do que apresentei, seguindo o raciocínio que temos muitas oportunidades que podem ser aproveitadas e gerar desenvolvimento, desde que os envolvidos atuem com profissionalismo, cumprindo requisitos básicos para o turismo de aventura:

Como nivelamento inicial, o Turismo de Aventura é definido pela NBR 15500:2014 como sendo "
Atividade de aventura para fins turísticos, que envolve um grau de instrução ou de liderança e um elemento de risco deliberadamente aceito“ e este conceito engloba uma série de modalidades: arvorismo, cachoeirismo, caminhada, escalada, rapel, mergulho, cavalgada, etc.


Oportunidades


Mas, o Turismo de Aventura é um segmento promissor? Sem dúvida. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), revelou que em 2009, o segmento do turismo de aventura já empregava 18,5 mil funcionários durante a alta temporada e teve um faturamento de R$ 515,9 milhões, com a participação de mais de 2000 empresas.  Algumas manchetes também revelam como o segmento está atraindo clientes e empresários:



A ABETA, em seu estudo sobre o perfil do turista de aventura, classificou, por assim dizer, os turistas de aventura. 68% realizaram entre 1 e 10 atividades. Estão apenas esperando um estímulo. Então temos a primeira grande oportunidade: um público disposto a experimentar as aventuras. Temos demanda. E o que espera esse público?
  • Uma fuga da rotina de trabalho e do estresse da cidade
  • Um resgate da infância por meio de atividades ao ar livre 
  • Uma possibilidade de extravasar as tensões acumuladas no dia a dia
  • Maior interação com a natureza
  • Sensações de liberdade
  • Superar desafios
O que o Rio Grande do Norte tem a oferecer? Apenas em um diagnóstico que realizamos para o SEBRAE, em 2013, cobrindo um raio de 100 Km a partir de Natal, identificamos 35 locais, em 18 municípios, realizando 15 tipos de atividades com alguma regularidade. Felizmente, esses números estão desatualizados e mais atividades são desenvolvidas atualmente


Isso ressalta nossa diversidade que se manifesta na disponibilidade de vários ambientes propícios às aventuras: lagoas, cavernas, serras, dunas, litoral, etc.


Considerando que a diversificação da oferta em um destino é fundamental para a sua competitividade, apresentando ao consumidor várias oportunidades de experiências, é possível combinar as atividades de Turismo de Aventura com a visita a sítios arqueológicos (como o sítio xique-xique, em Carnaúba dos Dantas), gastronomia local, atividades de turismo rural e religioso, fotografia, etc.

Desafios

Porém, há uma série de lacunas que precisam ser equacionadas. No diagnóstico que realizamos em 2013, foi possível identificar algumas delas:
  • Informalidade na contratação dos serviços
  •  Falta de informações prévias sobre a atividade que será realizada
  •  Deficiências na manutenção de equipamentos e veículos
  • Falta de equipamentos e preparação para atendimento a acidentes, incluindo disponibilidade de kit de emergência e plano de resgate para casos de acidentes graves
  •  Falta de integração com outras atividades potenciais
  •  Falta de oferta de serviços complementares
Então, nas palavras da ABETA, acabamos em um dilema: "Estimular a demanda pode expor um número maior de turistas a uma experiência potencialmente negativa (risco de imagem para o segmento). Por outro lado, não estimular a demanda tende a reduzir a atratividade do segmento para novos investimentos". A saída passa, necessariamente, pelo cumprimento de requisitos básicos para as atividades.

Escalada em Serra Caiada

Requisitos básicos


Indo além das questões crônicas que ainda precisam ser resolvidas adequadamente (infra-estrutura viária, segurança, sinalização turística, preservação dos patrimônios históricos, etc.) identifico requisitos que devem ser atendidos pelas operadoras, principalmente. Lembrando que requisito é uma exigência sem a qual o serviço não será adequado:
  • Escolher o ambiente adequado às modalidades a serem ofertadas, o que implica em avaliar quais modalidades podem ser realizadas com riscos controlados ? Qual o impacto ambiental?
    Qual a atratividade do local (histórico-cultural, visual, dificuldades técnicas, interação com a natureza, etc.)?
  • Conhecer os perigos e riscos envolvidos. É a base para planejar e oferecer atividades seguras. Sem isso, não é possível controlar os riscos adequadamente (um exemplo de metodologia para isso foi dado em um artigo anterior neste blog)
  • Prover infraestrutura adequada (inclusive se parte dos serviços são terceirizados). Isso inclui: equipamentos, estruturas fixas, hospedagem, alimentação, transporte e comunicação.
  • Atendimento aos requisitos normativos - técnicos e legais. O Brasil dispõe de uma série de normas técnicas voltadas para alguns produtos turísticos de aventura (veja artigos anteriores neste blog). Estas normas trazem requisitos que devem ser cumpridos para a oferta de serviços. Vale lembrar que A Lei 8078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) diz no artigo 39, inciso VIII: " É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: ...colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas"
  • Fornecer informações prévias aos clientes. Também previsto no Código de Defesa do Consumidor (Art.31), é exigido pelo artigo 34 do Decreto 7381, de 02/12/2010. Os clientes precisam saber sobre os riscos a qual estarão sujeitos, as restrições à prática, como devem se preparar, o que levar, etc. A ABNT também publicou uma norma sobre esse tema (NBR ISO 21103).
  • Competência adequada dos guias e demais envolvidos no fornecimento dos serviços. Capacitação é a palavra-chave.
  • Preparação e resposta a emergências, a partir da identificação do potencial de acidentes e emergências, é necessário contar com a infraestrutura adequada para minimizar os danos, o que inclui meios para remoção até o atendimento adequado.
Em resumo: Temos as oportunidades, mas temos um dever de casa a ser resolvido. Não podemos cair no equívoco de achar que só as belezas naturais do RN são suficientes para o Turismo de Aventura.



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