quarta-feira, 19 de junho de 2013

Lobuche e o Memorial aos Sherpas mortos


Thukla Nepal
Saindo de Thukla
Se o dia anterior foi exigente em termos de esforço físico devido à subida para aclimatação até 5000 metros, o 8º dia de caminhada foi mais curto. Em razão disso, nossos horários foram flexibilizados: tivemos mais 01 hora de sono e saímos às 09:00.

De manhã cedo, tivemos uma notícia triste: um de nossos colegas de viagem resolveu encerrar sua participação no trekking. Não estava conseguindo se adaptar como deveria e fazia alguns dias que não conseguia dormir direito. Avaliou que poderia piorar nos dias seguinte e decidiu voltar. Seu amigo o acompanhou e assim tivemos dois desfalques. Uma pena. Foram dois bons companheiros durante toda a caminhada. Um dos guias foi designado para acompanhá-los até Lukla e nos despedimos após o café da manhã, com uma sensação de perda.
Seguimos em frente. As paisagens são agora dominadas pelas tonalidades cinzas das rochas e sedimentos, pelo branco das neves que cobrem as montanhas e pelo belíssimo céu azul que complementa o quadro. Não tem como ficar cansado da beleza desta região.

Logo no início, encaramos uns 200 metros de subida íngreme até chegar ao Memorial aos Sherpas Mortos no Everest, onde alguns escaladores também são lembrados. As placas metálicas nas pequenas construções de pedra adornadas com as bandeirinhas budistas de oração identificam alguns dos que tombaram perseguindo seus sonhos, em suas tentativas de subir e voltar do cume do mundo.

Memorial Scott Fisher
Memorial a Scott Fisher, morto em 1996
O livro "No Ar rarefeito", de Jon Krakauer é um
dos que contam como isso ocorreu
Memorial Shirya Shah-Klorfine
Memorial a Shirya Shah-Klorfine, escaladora
Nepalesa-canadense

Inevitavelmente, o local nos faz lembrar os desafios da escalada em altitude: vencer o frio, o cansaço físico e psicológico, os obstáculos naturais em pedra, gelo e neve.

Tão logo chegamos, porém, presenciamos uma situação que mostrou que o risco já é real: um jovem carregador (que não fazia parte de nossa equipe) estava passando mal. Manoel Morgado fez o primeiro atendimento, administrando os medicamentos necessários e orientou a descida imediata. O diagnóstico inicial: edema pulmonar.  O rapaz desceu carregado nas costas de outro sherpa.

Manoel Morgado
Manoel Morgado  atende um carregador com sintomas de Edema Pulmonar

O Memorial aos Sherpas fica bem no coração do Himalaia, cercado de belas e imponentes montanhas. Lá na frente, o Everest e a fronteira com o Tibet.

Caminhamos mais um pouco e já avistamos à esquerda, o Lobuche East (6.145 metros) e seu acampamento base. Para muitos, subir o Lobuche faz parte da preparação para picos mais altos. Esta montanha também foi escalada por onze soldados norte-americanos - veteranos com alguma lesão física ou emocional durante a guerra no Afeganistão - juntamente com Erik Weihenmayer, que é cego. A saga é contada no filme High Ground (ver mais detalhes).

Lobuche East Acampamento Base
Lobuche East e seu Acampamento Base

Jodrian
O acampamento base do Lobuche e eu protegido
contra o vento frio

Caminhada até Lobuche
Caminhando para Lobuche com neve na trilha

Caminhada até Lobuche
Caminhando até Lobuche
A partir deste trecho, caminhamos lado a lado com a neve em um terreno relativamente plano. O uso dos anoraks foi imprescindível, pois o vento aumentava (e muito) a sensação térmica de frio.

Chegamos ao EcoLodge Lobuche, a 4950m de altitude, a tempo de tomar um banho quente (nosso recorde) - que seria o último antes do Acampamento Base - e almoçar um spaguetti delicioso.
Interessante ver que, apesar da simplicidade que ainda existe, as instalações de Lobuche melhoraram bastante em relação a relatos mais antigos. No livro do Jon Krakauer, de 1997, a referência à Lobuche não era nada animadora: “No final do dia chegamos a uma aldeia chamada Lobuje e ali buscamos abrigo do vento num alojamento lotado e de uma imundície espetacular...Um conjunto de construções baixas e em estado precário..."

À tarde, aproveitamos o tempo livre para organizar o material e roupas e passamos o tempo jogando cartas. Fomos dormir cedo, na companhia de nossas bolsas térmicas para os sacos de dormir – o dia seguinte prometia ser cansativo e maravilhoso.

EcoLodge Autor Natural Ecoturismo
Nossa hospedagem
Autoria da Foto: Natural EcoTurismo
Cartas Autor NaturalEcoturismo
Manoel Morgado ensina um novo jogo de cartas, que virou mania no grupo. Ótimo para passar o tempo.
 Autoria da Foto: Natural EcoTurismo 
Não percam os próximos capítulos !!

Para saber mais


O site Extremos preparou um gráfico que mostra, desde 1996, a comparação entre a quantidade de alpinistas que chegou ao cume do Everest e quantos faleceram: Link

Outros posts da Série

1 - Como é !? Vão subir o Everest?
2 - Chegada à Kathmandu
3 - Explorando Kathmandu
4 - Kathmandu–Pashupatinah e Boudhanath
5 - Voando para um dos aeroportos mais extremos do mundo (Lukla)
6 - Começamos a jornada! Caminhada até Monjo
7 - Namche Bazaar
8 - No caminho para Thamo, a visita a monges budistas
9 - Rumo ao Everest Base Camp: chegamos aos 4000 metros
10 - Como as cargas são transportadas no Himalaia
11 - A caminhada continua. Rumo à Deboche
12 - Sol e esterco: fontes energéticas no Himalaia
13 - Os desafios continuam: caminhada até Dingboche
14 - Uma curta caminhada, lindas paisagens e um desafio
15 – Entrevista com Manoel Morgado
16 – Lobuche e o Memorial aos Sherpas mortos
17 – Quase Lá: Gorak Shep
18 – Kala Patthar: 5500m e a melhor visão do Everest
19 –  Acampamento Base do Everest:Objetivo conquistado
20 – Retorno do Acampamento Base do Everest – de Gorak Shep a Deboche
21 – Terminando a caminhada: de volta a Lukla

4 comentários:

  1. Ver as pessoas desistindo e passando mal no meio da viagem deve ter sido tenso. Essa aventura não é brincadeira! :) Super fã de vocês!
    Abraços,
    Lillian.

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  2. Continuo lendo esses seus maravilhosos relatos e revivendo na memória!

    Zeneide Leal, Campina Grande - Pb.

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  3. Manoel Morgado é o Cara, amigo, lider, companheiro, profissional.... participei do trekking Nov/2013 , Oswaldo Toyofuku - Sao Paulo-SP.

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    Respostas
    1. É verdade, Oswaldo. Um guia muito competente e uma excelente pessoa !
      Abraço

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